Não há como negar que a venda de medicamentos se tornou uma prática muito lucrativa para indústria, distribuidores, farmácias e drogarias. Segundo dados do IQVIA, o setor faturou em 2020 na casa dos R$ 76 bilhões. Porém nem todos agem de forma ética no varejo farmacêutico, forçando a venda de produtos aos consumidores, sem que sejam necessários, conhecido como empurroterapia.
Essa prática de “empurrar” produtos aos consumidores com o único propósito de aumentar os lucros e receber bonificações tem se tornado endêmica, afetando a confiança das pessoas sobre os estabelecimentos e profissionais de saúde.
Para você entender melhor o que é empurroterapia, quais as práticas que são consideradas empurroterapia e como evitar esse tipo de situação pejorativa para a imagem da farmácia e drogaria, preparamos um artigo para te informar sobre a empurroterapia. Confira!
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O que você quer ler primeiro?
Empurroterapia, o que é?
Empurroterapia (empurrar + terapia) é o nome dado para a prática de forçar a venda de medicamentos ou quaisquer outros produtos para os consumidores, sem que os mesmos sejam necessários para o seu tratamento, em prol unicamente do benefício financeiro do estabelecimento ou vendedor.
Ainda podemos definir o termo ou jargão, empurroterapia, popular no balcão das farmácias, como sendo a prática conhecida como a comercialização em excesso ou sem necessidade por farmacêuticos ou balconistas, com único interesse no ganho de bônus e comissões sobre as vendas.
Em resumo, a empurroterapia é quando acontece uma venda forçada de medicamento sem que o consumidor realmente precise.
Exemplo de empurroterapia na farmácia
O ex-presidente do Conselho Federal de Farmácia (CFF), Jaldo de Souza Santos, elucida um bom exemplo dos males que a prática da empurroterapia pode causar ao consumidor:
Imagine você, caro leitor, se dirige a sua farmácia de confiança, é atendido pelo balconista ou mesmo pelo farmacêutico responsável pelo estabelecimento. Então você logo relata uma forte dor de garganta que lhe está terrivelmente incomodando.
Veja que a fonte do incômodo na garganta pode ser de origem bacteriana ou de uma infecção viral. Para cada caso é indicado um determinado tipo de medicamento. Se diagnosticado fonte viral, o tratamento recomendado por ser por um simples analgésico ou anti-inflamatório.
Entretanto, se a fonte da dor de garganta for bacteriana, o tratamento correto é a partir do uso de antibiótico específico para o tipo de bactéria contraída pelo paciente.
Note que o profissional de saúde não tem como saber o melhor medicamento para tratar sua dor, pois não existe um diagnóstico prévio, que neste caso é feito pelo médico.
A conduta indicada para essa situação é a orientação do farmacêutico ou balconista para que você procure um diagnóstico médico, visando melhor avaliar a dor de garganta. Porém o que normalmente acontece é a indicação do medicamento analgésico ou anti-inflamatório.
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O ato de “empurrar” o medicamento sem que haja um diagnóstico prévio, já é considerado empurroterapia.
Nessa situação a melhor abordagem seria o aconselhamento para o diagnóstico médico, porém como sendo um cliente em potencial, é feita a venda do produto com maior margem de lucro ou que possui bonificação pelos laboratórios.
Aos olhos nus esse exemplo pode até aparentar inofensivo, porém se o paciente carregar uma infecção bacteriana, nada adiantará o uso de analgésico ou anti-inflamatório, pelo contrário, apenas vão “mascarar” um problema que deveria logo ser tratado.
Propaganda de remédio é considerado empurroterapia?
Em um outro contraponto, também existe constante exposição midiática dos medicamentos para a população, por exemplo:
- quem nunca viu uma propaganda na TV sobre um medicamento?
- Uma celebridade falando dos benefícios de tal remédio?
- Use o produto X e tenha Y benefícios…
Somos diariamente bombardeados por anúncios impressos e digitais, no rádio, na TV, internet, celular, outdoors, eles estão em todos os lugares! E isso é considerado empurroterapia?
Apesar de haver diversas regras rígidas para anúncios de medicamentos, há de se considerar que a população é influenciada pela opinião dessas propagandas, muitas delas apelando para a figura de artistas populares e isso claro, reflete na decisão de compra dos consumidores na hora de fazer a compra de produtos para a saúde.
A discussão sobre empurroterapia é ampla e dependendo da perspectiva de análise pode ter várias interpretações, cada qual sempre buscando defender o seu lado de interesse, porém algumas vezes escanteado o lado do consumidor.
Como surgiu a empurroterapia?
Por que profissionais que deveriam promover a saúde praticam a empurroterapia? A explicação é simples: a busca por margens de lucro cada vez mais altas e bonificações.
Como já denunciado pela grande mídia, existem laboratórios que estimulam, por meio de prêmios, bônus, viagens, e outros, a venda de determinados produtos. Estes produtos são muito rentáveis, geralmente isentos de prescrição, como por exemplo suplementos e vitaminas.
Então se determina uma meta mensal para farmácias, que por sua vez repassam as metas de vendas para os colaboradores. O resultado é a empurroterapia, isto é, colaboradores tentando a todo custo vender produtos bonificados para garantir uma melhor remuneração ao final do mês.
No outro lado da moeda, a maior fatia da remuneração do colaborador de farmácia fica associada ao pagamento de comissões, ou seja, o salário fica condicionado a venda de determinados produtos, acarretando na predisposição desses profissionais ao indicar um produto.
É uma situação delicada para o consumidor, pois fica sempre a dúvida se a prescrição farmacêutica ou mesmo a indicação por determinado produto teve motivação financeira, ou apenas é a indicação adequada para a saúde do paciente.
Farmacêuticos praticam empurroterapia?
Não se pode afirmar que os profissionais farmacêuticos praticam empurroterapia, a maioria deles são éticos e cumprem muito bem seu papel junto à sociedade, realizando a dispensação correta dos medicamentos, prestando assistência farmacêutica e contribuindo para a promoção da saúde.
Acontece que muitos desses profissionais, bem como balconistas e atendentes de farmácia, acabam sofrendo pressões para cumprir metas de vendas sobre determinados produtos com bonificação, o que induz a prática da empurroterapia.
Abaixo listamos as práticas mais comuns que são consideradas empurroterapia dentro da farmácia:
Empurroterapia de medicamentos
- oferecer produtos que as pessoas não precisem;
- realizar falsa orientação em prol da compra do produto;
- fazer a dispensação de medicamento que exija prescrição sem que a mesma seja apresentada pelo paciente;
- substituir o medicamento da prescrição médica por outro de maior margem de lucro;
- favorecer exclusivamente o interesse econômico em detrimento do bem estar e segurança do paciente;
- insistir para o consumidor comprar um produto sem que o mesmo seja necessário para o paciente;
- indicar medicamento sob prescrição sem que haja diagnóstico da doença;
- induzir a compra de produtos com falsas promessas ao paciente;
- promover produtos ou tratamentos que não são comprovados cientificamente;
- usar técnicas de persuasão para convencer o consumidor a levar um produto que o mesmo não precise;
- insistir veementemente para o consumidor comprar um produto;
- realizar venda “casada”, conhecidos como “Kit de Medicamentos”;
O que não é considerado empurroterapia
- substituir o medicamento (intercambialidade) por outro mais em conta, sem que isso prejudique o paciente;
- sugerir um medicamento genérico (mais barato) ao consumidor, sem causar prejuízo ao tratamento;
- realizar a orientação na hora da dispensação do medicamento no balcão;
- oferecer serviços farmacêuticos para o paciente sem intenção de promover produtos;
- realizar a prescrição farmacêutica de produtos isentos de prescrição médica;
- prestar esclarecimentos aos consumidores com embasamento científico sobre os produtos;
Qual o papel da farmácia no combate da empurroterapia?
Todo estabelecimento farmacêutico é classificado como sendo um local de promoção à saúde, conforme descrito no artigo 3º da Lei 13.021/14:
“Farmácia é uma unidade de prestação de serviços destinada a prestar assistência farmacêutica, assistência à saúde e orientação sanitária individual e coletiva, na qual se processe a manipulação e/ou dispensação de medicamentos magistrais, oficinais, farmacopeicos ou industrializados, cosméticos, insumos farmacêuticos, produtos farmacêuticos e correlatos”.
Nesse sentido a prática da empurroterapia vai no sentido contrário sobre o que emprega a legislação e principalmente no âmbito institucional que a farmácia e drogaria possui junto à população. Em outras palavras, a empurroterapia não promove de forma alguma a promoção à saúde para a população.
A farmácia e drogaria como sendo instituições voltadas para a saúde não podem de forma alguma promover o uso indiscriminado de medicamentos visando a lucratividade de qualquer forma, isto é, praticar a empurroterapia.
É perfeitamente possível ter boa lucratividade sem que isso interfira na promoção da saúde para a população!
Sendo mais direto, muitos estabelecimentos farmacêuticos estão se tornando verdadeiros “mercadinhos” quando colocam o próprio interesse econômico sobre a saúde das pessoas. Existe sim como equilibrar a balança!
A empurroterapia não acontece somente nas farmácias!
Muito se engana quem pensa que somente farmácias e drogarias praticam a empurroterapia. Isso acontece, pois esses estabelecimentos são a “ponta final” de toda uma cadeia de produção e distribuição.
O ato de empurrar um produto destinado à saúde do paciente sem que o mesmo seja necessário, ou em muitos casos que somente beneficie o prescritor, por meio de comissões de laboratórios, também acontece em clínicas e consultórios médicos.
Infelizmente existe uma minoria de profissionais que não seguem a ética da profissão e acabam sendo seduzidos por altas comissões, pagas para a indução de medicamentos específicos. O grande prejudicado nesse contexto acaba sendo o paciente, que ficam a mercê desses profissionais antiéticos.
Como evitar a empurroterapia?
Algumas dicas podem ser seguidas para evitar cair na empurroterapia na hora de comprar medicamentos na farmácia e drogaria. O consumidor deve:
- desconfiar quando o atendente da farmácia insiste demais na compra de um produto;
- solicitar uma explicação clara sobre o medicamento que o atendente está indicando;
- sempre preferir levar os produtos que estão descritos na receita;
- caso estiver em dúvida, procurar a opinião de outros profissionais de saúde;
- não ficar pressionado em levar nenhum produto, somente comprar se estiver confortável com a situação;
- desconfiar de promessas fantasiosas feitas pelo atendente da farmácia (curas, tratamentos alternativos);
- solicitar sempre a fonte da informação, isto é, o embasamento legal, a fonte científica do que o atendente está falando;
O recomendo para os consumidores é sempre usar o senso crítico, isto é, desconfiar de forma saudável do que lhe é indicado a comprar. Um bom exemplo disso é a insistência na compra de vitaminas por parte dos balconistas, veja:
Como é possível que qualquer pessoa saiba qual tipo de vitamina está em falta em seu corpo, sem que você tenha passado por um exame laboratorial? Ter isso mente já impede de sair comprando qualquer tipo de produto indicado na farmácia.
Além dessas dicas na hora de comprar medicamentos, o consumidor ao se sentir prejudicado de alguma forma e concluir que está sendo lesado com práticas de empurroterapia, pode realizar denúncias para o órgão sanitário local, e também acionar o órgão de proteção do consumidor (PROCON – Proteção e Defesa do Consumidor).
Conclusão
A empurroterapia é uma prática condenável que fere os princípios éticos dos profissionais de saúde, além de manchar a reputação daqueles que praticam corretamente a promoção da saúde para a população. Contudo os consumidores devem se precaver sobre a empurroterapia, buscando sempre desconfiar da insistência na compra de produtos.
Para as farmácias e drogarias, deve se ter cautela na forma de remuneração dos colaboradores, através de comissões na venda de produtos, evitando causar empurroterapia, bem como a orientação e treinamento.
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